quarta-feira, agosto 18, 2004

Renivaldo Pereira de Jesus

Renivaldo Pereira de Jesus.

Chegava ás Antas como um D. Sebastião para ambos clube e pasquins desportivos nacionais. Na cidade invicta despontava como o substituto natural do grande Jardi-gol, esse Globetrotter do futebol mundial. Por outro lado, o seu apodo marcava-o desde logo como um oásis no deserto que era o mundo dos trocadilhos das manchetes dos supracitados pasquins.

Sim. Já não era necessário que o Dragão defrontasse os valorosos oponentes helénicos para que os tais trocadilhos jorrassem nas páginas dos jornais. Adeus, "FCP viu-se grego para vencer Panathinaikos". Já não era de igual forma preciso que o mágico nº10 tirasse da cartola mais um genial jogo para que surgissem, qual passe de magia, títulos como "Eu Show Deco" ou "Art Deco". Esses dias negros, de incertezas e ideias turvas chegavam ao fim.

Viva D. Renivaldo Pereira de Jesus. Logo este super-homem sul-americano fazia valer a sua fama demolidora e começava a transformar cruzamentos naquilo a que a imprensa tão bem denomina como "o sal do futebol". Para o comum dos mortais, "golo". Nem mais. Começaram a surgir em catadupa, ao ritmo de colossos como Vata, Spassov ou Petar Mitharsky. O seu penteado "bomba atómica" de fazer inveja aos magníficos Flock of Seagulls virou moda.

Hossana nas alturas. O mundo da bola lusa tinha um novo ídolo. PENA de seu nome. Oh delírio. Oh júbilo. Á medida que o sal do futebol ia pingando na panela que era a baliza adversária, (ou seja, á medida que os golos iam surgindo) os geniais bi ou tri-supracitados pasquins deste país á beira mar plantado (outro bom lugar-comum literário) iam relatando belos trocadilhos em variadas manchetes plenas de oportunidade e criatividade. Era o delírio. Na Invicta, estava tudo certo de que Papa PC I tinha descoberto o tal D.Sebastião que iria substituir o Sr. do Guaraná.

Porém, cedo os adversários do bronzeado Clark Kent descobriram a Kriptonite para o anular. Dêem-lhe a bola. Tão simples como isso. E de facto, quando o jovem Renivaldo Pereira de Jesus tocava na bola, gritos que revelavam um misto de dor e horror vinham das bancadas das Antas. Descobriu-se que os seus pés afinal eram tijolos, dada a prontidão e rudeza com que a bola por eles era expelida. O toque de seda já não morava lá. Os seus remates eram desferidos com uma potência equivalente a um sprint de Pedro Barbosa e direcção semelhante a de King, saudoso central do Sport Memória e Benfica.

Kriptonite. Os pasquins rejubilaram ainda mais, pois o depressivo apodo do nosso (ex) herói tinha uma clara conotação negativa. Daí poder ser utilizado de mais formas, e cada uma melhor que a outra. Passou-se rapidamente de um "FCP sem Pena do Trofense" para um "Até dá Pena".
Como consequência, os exigentes Men in Black das Antas prontamente relegaram o goleador-cogumelo para o exílio francês, e na época seguinte, para o glorioso SC Braga.

Assistiu-se ao declínio de um Golias, foi colado ao seu nome o epíteto "passou ao lado de uma grande carreira", como se de um J'aime Cerqueira ou Semedo se tratasse. E foi esquecido pela imprensa que tanto o acarinhou.

"Raisparta", bramiu o mundo da bola. Mas ainda há quem jure que em noites frias de nevoeiro na cidade que deu o nome a Portugal, ao passar pelas ruínas do defunto Estádio das Antas, se ouvem longínquos berros de dor- "Outra vez??A baliza é ali, carai!!" e de desespero- "Tira o burro do Pena, FOR FAVOR!!"...

É o fantasma de Renivaldo Pereira de Jesus, para sempre assombrando a bola portuga.



o que seria do mundo da bola sem registos fotográficos?

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